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A observação e o registo fotográfico de pinturas em diferentes faixas do espectro eletromagnético — luz visível (Vis), ultravioleta (UV) e infravermelho (IV) — são ferramentas fundamentais na análise de obras de arte. Cada uma dessas iluminações pode revelar informações sobre as etapas de construção da obra, as técnicas pictóricas, os materiais constituintes e o seu estado de conservação. Todos estes dados ajudam a conhecer melhor as obras e a delinear as melhores estratégias para a sua conservação e manutenção.

Luz Visível

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Observar as pinturas em diferentes comprimentos de onda do espectro electromagnético

A gama de luz visível compreende os comprimentos de onda entre 380nm e 750nm, que são detetados pelos fotorreceptores da retina humana. Com luz visível, é possível observar como Almada construiu as figuras com recurso a cores primárias e suas diferentes combinações, bem como a riqueza e diversidade de padrões geométricos inspirados em tecidos. Os motivos, que combinam simetria e assimetria, foram criados com pinceladas fluidas e opacas sobre uma base de cor uniforme.

Luz visível rasante é a iluminação que se obtém quando se faz incidir um feixe de luz visível quase paralelo a uma superfície, ou seja, com um ângulo entre 5º e 20º. Com este tipo de iluminação, é possível realçar a topografia da superfície — uma vez que projeta sombras mesmo em pequenas irregularidades que não são percetíveis com luz visível frontal. No caso das pinturas de Almada, revela as diferentes texturas obtidas com pinceladas fluidas e mais empastadas, marcas da passagem da composição para o reboco ainda fresco (incisões e pequenos furos nos contornos das figuras) e destacamentos das camadas de pintura visíveis antes da intervenção de restauro de 2023.

Estudar as pinturas com luz visível rasante a partir de vários ângulos é importante, pois permite observar diferentes aspetos da obra, destacando áreas específicas que, de outro modo, poderiam passar despercebidas.

Dica: anda à volta para teres uma visão 360º.

Quando expostos à radiação ultravioleta (sobretudo a 365 nm), certos materiais fluorescem, emitindo luz visível. Os materiais orgânicos são particularmente sensíveis, sendo esta radiação utilizada para identificar a sua presença em camadas originais de pintura. Também serve muitas vezes para distinguir o que é original do que foi aplicado depois em intervenções de restauro, pois materiais diferentes tendem a reagir de maneira diversa. Por exemplo, retoques miméticos, que são quase indetetáveis a olho nu, podem aparecer como manchas escuras ou com uma fluorescência distinta da área envolvente.

Já conseguiste identificar algum retoque na imagem?

Os materiais de cor também apresentam um comportamento diferenciado a esta radiação. No caso de Almada, é de destacar o uso de pigmentos vermelhos a amarelo de cádmio que apresentam uma aparência rosa a alaranjada, e os pigmentos à base de ferro que ficam totalmente escuros em ultravioleta.

A radiação de Infravermelho próximo (750 a 1000nm) é usualmente empregue para analisar as camadas mais internas de uma pintura, sobretudo desenhos preparatórios feitos a carvão, pois, por ser muito absorvente ao infravermelho, aparece a preto, revelando o traçado feito antes do artista começar a pintar. Mas as fotografias obtidas com esta iluminação também podem lançar pistas sobre os materiais de cor utilizados na superfície, pela capacidade que uns têm de absorver a radiação infravermelha, enquanto outros a refletem ou transmitem.

Já repararam que, na imagem, algumas áreas aparecem completamente brancas, quase como se não tivessem sido pintadas?

Esta é uma característica de alguns dos pigmentos empregues por Almada, tais como os pigmentos vermelhos de cádmio. Isto acontece precisamente porque estes pigmentos não absorvem significativamente esta radiação, mas sim refletem-na e transmitem-na, ficando assim com uma aparência clara.

Pormenor da pintura Passeio de domingo no Tejo. Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. Almada Negreiros 1948

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