Queridos leitores,
É com muito gosto que voltamos ao vosso contacto após seis meses de intenso trabalho em laboratório na análise dos dados recolhidos das várias campanhas de campo em Portugal e no estrangeiro. E os resultados têm vindo a ser divulgados de várias maneiras. Nesta newsletter, o destaque é dado às publicações do projeto sobre a obra de Almada que estão gradualmente a levantar o véu sobre o modo de operar de Almada Negreiros e a mostrar o quanto este artista na primeira metade do século XX era inovador e pragmático. Curiosos?
Fiquem connosco e boa leitura.
Imagem: Detalhe de uma camada cromática verde com pigmento verde-esmeralda em microscópia digital 3D, 700x. Projeto ALMADA©. Todos os direitos reservados.
SOBRE A OBRA DE DE ALMADA NEGREIROS
Milene Gil, Inês Cardoso, Mafalda Costa and José C. Frade.
Modern Muralists in the spotlight: Technical and material characteristics of the 1946-1949 Mural paintings by Almada Negreiros in Lisbon (part1). Heritage 2024, 7(6), 3310-3331; https://doi.org/10.3390/heritage7060156
Este artigo apresenta a primeira visão de como Almada Negreiros, um artista-chave da primeira geração do modernismo em Portugal, criou a sua obra-prima de pintura mural na estação marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa. Este conjunto de seis pinturas murais de escala monumental data de 1946 a 1949 e é considerado o epítome artístico de Almada. No âmbito do projeto ALMADA: O Desvendar a arte da pintura mural de Almada Negreiros, os murais estão a ser analisados do ponto de vista técnico e material para compreender o seu modus operandi e os materiais utilizados. Trata-se do primeiro estudo desta natureza efetuado no local, e em laboratório, com recurso a técnicas standard e mais avançadas de imagem, análise não invasiva e microanálise de amostras recolhidas.
Sara Valadas, Peter Vandenabeele, Milene Gil, José C. Frade, Eva Vermeersch, Sylvia Lycke, Luís Dias, António Candeias, Mafalda Costa.
Analysis of green pigments: The case of Almada Negreiros maritime station murals in Lisbon (Portugal). J Raman Spectrosc. 2024;1–8. DOI: 10.1002/jrs.6717.
Em 1949, Almada Negreiros pintou na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, seis monumentais pinturas murais que são consideradas a sua maior realização artística. Nestas pinturas, recorreu a uma paleta de cores vivas que necessita de ser estudada para apoiar a conservação e preservação destas obras de arte para as gerações futuras. Entre os pigmentos em estudo no projeto ALMADA, a identificação das amostras verdes é a mais desafiante, uma vez que Almada Negreiros parece ter explorado diferentes tonalidades, utilizando simultaneamente pigmentos inorgânicos (e.g. verde-esmeralda, verde de Scheele e viridian) e organo-sintéticos, pouco usuais numa técnica de pintura mural (e.g. PG7, PG8).
Simão Palmeirim.
Decoding a drawing: the stained-glass color scheme of the altar of Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Color Research & Application, Volume 49, Issue 1, Jan 2024, pag. 177-187; DOI: 10.1002/col22901.
No processo de catalogação do espólio do artista modernista Almada Negreiros, estão a ser identificados desenhos preparatórios de várias obras de arte pública do autor.
O volume e a complexidade da sua prolífica obra implicam que, por vezes, seja difícil relacionar determinados documentos e obras de investigação e preparação com os respetivos trabalhos finais.
Recentemente, um desenho em particular revelou-se a chave para a compreensão de vários outros documentos, contribuindo simultaneamente para clarificar a metodologia do artista na preparação do vitral de grande escala por detrás do altar da Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Este artigo apresenta estes novos avanços.
[artigo disponível a pedido]
A. Acevedo-Mejia, M. Costa, P. Vandenabeele, L. Dias, J.C. Frade, M. Gil,
An Insight into the Green Deteriorated Paint Layers of the Maritime Station of Alcântara (Lisbon): An Archeometric Study. International Jornal of Conservation Science,volume 14, issue 3, September 2023, pp. 1185-1204. DOI: 10.36868/IJCS.2023.03.27
Este estudo apresenta os primeiros resultados da análise efetuada em 2022 às camadas cromáticas verdes deterioradas das pinturas murais realizadas por Almada Negreiros na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa (Portugal). Estes murais, pintados em 1945, constituem um dos mais emblemáticos conjuntos de pintura do artista modernista e exibem uma paleta cromática luminosa que apresenta diferentes estados de conservação, estando as camadas de tinta verde particularmente danificadas, apresentando forte descamação e pulverulência nas tonalidades mais claras. Para compreender o fenómeno de deterioração, foram efetuadas análises in situ e em laboratório, procurando identificar os cromóforos verdes, a técnica de pintura e os agentes responsáveis pelas anomalias presentes.
K.S. Rix, S. Valadas, I. Cardoso, L. Dias, M. Gil,
Preliminary Diagnostic Survey of Deteriorated Paint Layers at the Maritime Station of Rocha Do Conde De Óbidos, Lisbon: A Multianalytical Research.
International Jornal of Conservation Science, volume 14, issue 3, September 2023, pp. 1249-1264. DOI: 10.36868/IJCS.2023.03.31
Este artigo relata os resultados do levantamento preliminar de diagnóstico dos seis murais pintados em 1949 na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, considerados o epítome artístico da arte da pintura mural de Almada Negreiros. Quatro questões de investigação nortearam esta pesquisa: a) Quais os principais fenómenos de degradação presentes e as suas origens? b) Quais as camadas cromáticas mais afetadas e se estas estão relacionadas com algum pigmento em particular? c) Existe alguma relação entre a técnica de pintura utilizada e a deterioração ou estabilidade das camadas de tinta e dos pigmentos? E, finalmente, d) Existem diferenças nos fenómenos de deterioração presentes nas duas estações marítimas de Alcântara?
M. Gil, Y. Helvaci, J. Mirão,
Modern Mural Paintings The Planisphere Painting of Almada Negreiros: Technical and Material Features of Plasters and Painting Technique. International Jornal of Conservation Science, volume 14, issue 3, September 2023, pp.1265-1276. DOI: 10.36868/IJCS.2023.03.32
Este artigo apresenta os resultados das observações e análises efetuadas na pintura mural de 54m2, conhecida como Planisfério (ou Mapa-mundi), realizada por Almada Negreiros em 1939 na cidade de Lisboa. A pintura é a primeira obra monumental de Almada pintada a fresco, e é uma composição marcante e colorida inspirada nos primeiros mapas-múndi dos navegadores. O objetivo foi saber como Almada construiu esta obra-prima e que fontes artísticas o terão inspirado. Os dados obtidos foram comparados com dois compêndios de pintura descobertos do atelier do artista em 2019: La Fresque: sa Technique-ses applications de Paul Bedouin (1914) e L'art de la fresque de Costin Petresco (1931).
Joaquin, R. et al. (2024).
Rocha Do Conde De Óbidos Maritime Station: Preliminary Results of the Inspection. In: Lanzinha, J.C.G., Qualharini, E.L. (eds) Proceedings of CIRMARE 2023. CIRMARE 2023. Lecture Notes in Civil Engineering, vol 444. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-031-48461-2_16
A Rocha do Conde de Óbidos é uma gare marítima, classificada como património histórico em Alcântara, Lisboa. O edifício, datado da década de 1940, é um dos primeiros exemplos de betão armado em Portugal. Devido à sua vulnerabilidade e por estar exposta a um ambiente bastante agressivo, completamente isolada e próxima da linha de frente do rio Tejo, a gare marítima apresenta uma severa deterioração dos elementos estruturais, especialmente os localizados no exterior, tais como esboroamento do revestimento de betão, corrosão das armaduras, penetração de água com depósito e crescimento biológico nas juntas. Para além disso, existem evidências de intervenções e reparações anteriores seguidas de recidiva da patologia. Dada a sua relevância como legado do arquiteto Pardal Monteiro e do artista Almada Negreiros, figuras-chave da vanguarda e do modernismo em Portugal, foi planeado e executado pelos autores um programa de inspeção e diagnóstico. O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados preliminares desta investigação.
[ artigo disponível a pedido].
Milene Gil, Mafalda Costa, Mila Cvetkovic, Carlo Bottaini, Ana Margarida Cardoso, Ana Manhita, Cristina Barrocas Dias, António Candeias,
Unveiling the Mural painting art of Almada Negreiros at the Maritime stations of Alcântara (Lisbon): diagnosis research of the paint layers as a guide for its future conservation. Ge-Conservación, Vol 20 (2021).
DOI: https://doi.org/10.37558/gec.v20i1
Este artigo relata a investigação de diagnóstico das camadas cromáticas deterioradas de três pinturas murais da autoria de Almada Negreiros na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa. O objetivo foi compreender os principais fenómenos de degradação para auxiliar futuros trabalhos de conservação.
Gil, M.; Costa, M.; Cardoso, A.; Valadas, S.; Helvaci, Y.; Bhattacharya, S.; Moita, P.; Candeias, A.
On the Two Working Palettes of Almada Negreiros at DN Building in Lisbon (1939–1940): First Analytical Approach and Insight on the Use of Cd Based Pigments. Heritage 2021, 4, 4578-4595. https://doi.org/10.3390/heritage4040252
Este artigo reporta a primeira abordagem analítica efetuada a duas paletas de trabalho do mestre modernista português Almada Negreiros, encontradas em 1991 atrás de armários de madeira no edifício do DN em Lisboa. Esta é a única ocasião conhecida em que Almada deixou para trás as experiências de cor efetuadas antes de começar a pintar as paredes vizinhas e, como tal, constitui uma oportunidade única para analisar os materiais e técnicas de pintura que foram originalmente utilizados.
SOBRE A OBRA DE ARTISTAS CONTEMPORÂNEOS DE ALMADA NEGREIROS
Gláucia Wenzeller Martins, Natália Gomes, Teresa Ferreira, Milene Gil,
Levantamento documental sobre a vida e obras de pintura mural da artista brasileira Gilda Neuberger (1911-2011). Conservar Património [in press]
https://doi.org/10.14568/cp31051
Gilda Gelmini Neuberger (1911-2011), com mais de 60 anos de carreira, foi uma das raras artistas a produzir afrescos no Brasil durante o século XX. Também foi provavelmente a única artista brasileira a experimentar essa técnica em suportes não convencionais, assim como falso afrescos cujo significado é ainda ambíguo na comunidade artística. No Brasil, a artista foi pupila de Cândido Portinari e de Edson Motta e, em Itália, de Bruno Saetti. Este artigo baseia-se em pesquisas de fontes primárias e secundárias, incluindo depoimentos orais de pessoas que conviveram com Gilda Neuberger ou conheceram o seu trabalho. O objetivo é dar a conhecer a sua trajetória artística e aferir potenciais influências de seus pares nas suas obras. O artigo também apresenta detalhes do processo de execução e destaca a originalidade dos seus afrescos em variados suportes, que serão futuramente investigados do ponto de vista analítico.
OUTROS
Mathilda Coutinho, Silvia Pereira, Andreia Ruivo, Silvia Bottura Scardina, João pedro Veiga, Catarina Geraldes, Milene Gil e Joana Shearman,
Colours of the Tijomel ceramic manufacture (1941-1992): characterisation of a set of ceramic colourants and glazed tiles from Decormel Materials Catalogue. Conservar Património, Vol46, 2024.
A fábrica de cerâmica Tijomel foi considerada das mais modernas da Península Ibérica em meados do século XX. Localizada em Caxarias (Ourém, Portugal), esta fábrica produziu uma vasta gama de materiais em cerâmica, desde tijolos de barro até sofisticados azulejos modernistas. Recentemente, membros da família dos antigos proprietários da Fábrica Tijomel recuperaram um acervo de 33 matérias-primas, na sua maioria colorantes cerâmicos. Neste estudo foi realizada a caracterização destes colorantes cerâmicos e comparada com um catálogo de azulejos do mesmo fabricante, o Catálogo Decormel.
P.I. Girginova, M. Gil,
Studies of the medium-term effect of nanoconsolidants on wall Paint Layers with a lack of Cohesion. International Jornal of Conservation Science, volume 14, issue 3, September 2023, pp.1205-1220. DOI: 10.36868/IJCS.2023.03.28
Este artigo apresenta uma perspetiva atualizada de um estudo comparativo sobre os efeitos a médio prazo do tratamento com três consolidantes - nanocal preparada em laboratório, nanocal comercial e resina acrílica comercial - em réplicas de camadas de pintura a fresco afetadas por perda de coesão.
Este é um seguimento de dados preliminares publicados em 2021. Em 2020, foram preparadas in vitro réplicas de camadas de tinta de frescos através de técnicas de pintura a buon fresco e fresco a cal com pigmentos de azul de esmalte e amarelo ocre. As amostras foram tratadas com os três consolidantes e envelhecidas em condições ambientais. Em 2023, os autores repetiram a análise para avaliar e comparar o efeito de três anos da nanocal preparada em laboratório nas camadas cromáticas relativamente à nanocal comercial e à resina acrílica.
- Artigo do jornal o Público sobre a conquista do prémio Europa Nostra 2023.Texto por Luís Miguel Queiroz
- Artigo do boletim noticioso À Segunda (edição 54) da Universidade de Évora acerca da distinção do projeto ALMADA nos Prémios Europeus do Património Europa Nostra 2023
- António Campos, Os murais de Almada Negreiros em Lisboa. National Geographic-Portugal, Edição de Outubro 2022, pp.47-57.
Rubrica que pretende mostrar a investigação em curso e seus intervenientes
Foto: Da esq. para a direita: Luis Dias e Milene Gil analisando camadas cromáticas com SEM-FEM. Projeto ALMADA2024© todos os direitos reservados.
Projeto PTDC/ART-HIS/1370/2020 financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P.
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